O shunt portossistêmico congênito em cães é uma condição grave, mas relativamente rara, que compromete a saúde e qualidade de vida dos animais afetados. Estudos apontam que essa anomalia ocorre em aproximadamente 0,18% da população canina geral, sendo mais comum em raças pequenas, como Yorkshire Terriers e Maltês.
A identificação precoce e o tratamento adequado são fundamentais para o prognóstico positivo do cão.
Essa síndrome está relacionada ao sistema vascular, afetando diretamente o funcionamento do fígado. Em situações normais, o sangue que sai do sistema digestivo passa pelo fígado para ser filtrado antes de chegar à circulação geral.
Ao longo deste artigo, vamos explorar o que é essa síndrome, seus sintomas, os riscos que ela apresenta, as opções de tratamento disponíveis e dicas práticas de como preveni-la ou detectar precocemente essa condição no seu pet.
O que é síndrome de shunt portossistêmico congênito em cães
O shunt portossistêmico congênito é um defeito vascular presente desde o nascimento. Essa condição implica em uma conexão anormal entre a veia porta — que deveria levar o sangue do trato gastrointestinal ao fígado — e outra veia sistêmica, desviando o sangue diretamente para a circulação geral.
Em cães com shunt portossistêmico, o fígado não consegue filtrar adequadamente as toxinas, nutrientes e resíduos metabólicos. Isso resulta na presença de amônia e outros compostos tóxicos na corrente sanguínea, levando a sintomas neurológicos, gastrointestinais e urinários.
Existem dois tipos principais de shunt:
- Intra-hepático: dentro do fígado, mais comum em raças grandes como Labrador Retriever;
- Extra-hepático: fora do fígado, mais prevalente em raças pequenas como Yorkshire Terrier e Shih-Tzu.
A condição é considerada congênita porque o animal já nasce com essa anormalidade vascular, diferentemente dos shunts adquiridos, que podem ocorrer secundariamente a doenças hepáticas severas.
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Sintomas da síndrome de shunt portossistêmico congênito em cães
O reconhecimento dos sinais clínicos é essencial para suspeitar da presença de um shunt portossistêmico. Eles podem variar conforme a gravidade e a extensão do desvio, mas incluem:
- Alterações neurológicas: desorientação, letargia, andar em círculos, cegueira temporária, convulsões;
- Problemas gastrointestinais: vômitos, diarreia, perda de apetite e crescimento deficiente;
- Alterações urinárias: formação de cálculos urinários (especialmente de urato), micção frequente e infecções urinárias recorrentes;
- Sintomas sistêmicos: baixo ganho de peso, má qualidade da pelagem, intolerância ao exercício e sinais de encefalopatia hepática.
Esses sinais geralmente pioram após a alimentação, devido ao aumento da absorção de toxinas pela corrente sanguínea.
Além disso, em exames laboratoriais de rotina, pode-se observar alterações como baixos níveis de ureia e albumina, e elevação de ácidos biliares, o que reforça a suspeita clínica.

Perigos da síndrome de shunt portossistêmico congênito em cães
Se não diagnosticada e tratada precocemente, a síndrome pode levar a complicações graves e, eventualmente, à morte. Os principais perigos incluem:
- Encefalopatia hepática severa: o acúmulo de toxinas no cérebro pode causar danos neurológicos irreversíveis;
- Comprometimento hepático: o fígado subdesenvolvido ou não funcional afeta a produção de proteínas essenciais e fatores de coagulação;
- Cálculos urinários: podem causar obstruções urinárias dolorosas e perigosas;
- Redução da expectativa de vida: sem tratamento adequado, a qualidade e a duração da vida do animal são significativamente comprometidas.
Esses riscos tornam essencial o acompanhamento veterinário contínuo para cães diagnosticados ou com suspeita da doença.
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Tratamento da síndrome de shunt portossistêmico congênito em cães
O tratamento pode ser clínico, cirúrgico ou uma combinação de ambos, dependendo do tipo e da gravidade do shunt.
Tratamento clínico:
- Dieta controlada: restrição proteica para reduzir a produção de amônia.
- Uso de lactulose: ajuda a reduzir a absorção de amônia pelo intestino.
- Antibióticos orais: reduzem a população bacteriana intestinal produtora de amônia.
- Medicamentos sintomáticos: para convulsões e suporte hepático.
Tratamento cirúrgico:
A cirurgia é considerada o tratamento de escolha para shunts extra-hepáticos. Ela visa o fechamento gradual do vaso anômalo para permitir que o fígado se adapte ao aumento progressivo do fluxo sanguíneo.
Técnicas comuns incluem:
- Colocação de anel ameroide constrictor.
- Uso de cintas de celofane para oclusão progressiva.
O sucesso cirúrgico é alto, mas depende da habilidade do cirurgião e da resposta individual do cão. Após a cirurgia, o acompanhamento intensivo é necessário para monitorar a função hepática.
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Como evitar a síndrome de shunt portossistêmico congênito em cães
Por ser uma condição congênita, a prevenção direta é limitada, mas algumas medidas podem reduzir a incidência e os riscos:
- Criação responsável: evitar a reprodução de cães com histórico familiar de shunt portossistêmico é fundamental. Raças predispostas devem ser cuidadosamente avaliadas;
- Testes genéticos: embora ainda em desenvolvimento, alguns testes estão começando a surgir para identificar portadores da anomalia;
- Exames precoces: filhotes de raças de risco devem ser avaliados com exames laboratoriais e ultrassonografia doppler ainda jovens, especialmente se apresentarem sintomas atípicos;
- Atenção aos primeiros sinais: qualquer alteração neurológica, urinária ou gastrointestinal em cães jovens deve ser investigada prontamente.
Essas práticas podem não eliminar totalmente a ocorrência da doença, mas aumentam as chances de diagnóstico precoce e intervenção eficaz.
O shunt portossistêmico congênito em cães é uma condição séria que exige atenção cuidadosa desde os primeiros sinais. Entender o que é a síndrome, reconhecer seus sintomas, conhecer os perigos associados e buscar tratamento adequado são passos fundamentais para garantir qualidade de vida aos pets afetados.
Embora a prevenção seja um desafio, a criação responsável e o diagnóstico precoce são aliados importantes na luta contra essa anomalia vascular.
Manter-se informado e contar com o suporte de uma equipe veterinária qualificada faz toda a diferença. Se você suspeita que seu cão possa apresentar sintomas relacionados ou deseja realizar exames preventivos, não hesite em buscar orientação especializada.
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